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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

História da crônica no Brasil


> Mescla-se a própria história do jornalismo, desde o século XIX está presente nos jornais brasileiros;

> José de Alencar já publicava no Correio Mercantil em 1854;

> Machado de Assis publicou por quarenta anos romances em capítulos, denominados folhetins;

> Considerada gênero menor pela característica efêmera consagrou-se pelo ritmo rápido e pela relação com o cotidiano;
 
> A crônica se afastou da História com o avanço da imprensa e do jornal. Tornou-se "Folhetim". João Roberto Faria no prefácio de Crônicas Escolhidas de José de Alencar nos explica:

"Naqueles tempos, a crônica chamava-se folhetim e não tinha as características que tem hoje. Era um texto mais longo, publicado geralmente aos domingos no rodapé da primeira página do jornal, e seu primeiro objetivo era comentar e passar em revista os principais fatos da semana, fossem eles alegres ou tristes, sérios ou banais, econômicos ou políticos, sociais ou culturais. O resultado, para dar um exemplo, é que num único folhetim podiam estar, lado a lado, notícias sobre a guerra da Criméia, uma apreciação do espetáculo lírico que acabara de estrear, críticas às especulações na Bolsa e a descrição de um baile no Cassino."
> Na época das grandes navegações, a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel é tida como a primeira crônica nacional. O relato da descoberta de nosso país era uma crônica no sentido atribuído ao vocábulo, ou seja, narrativa em ordem cronológica do que acontecia no Novo Mundo.

> Alguns cronistas: Machado de Assis, João do Rio, Rubem Braga, Helyda Rezende, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Henrique Pongetti, Paulo Mendes Campos, Alcântara Machado, Carlos Heitor Cony, Luis Fernando Veríssimo, Martha Medeiros, David Coimbra e outros.
Os cronistas são os espiões da vida, e muitos são os bons cronistas brasileiros.
JOÃO DO RIO Consagrou-se como cronista mundano, que, ao invés de um simples registro do formal, fazia o comentário dos acontecimentos que tanto podiam ser do conhecimento público quanto da imaginação do cronista, tudo examinado pelo ângulo da recriação do real. Ele inventava personagens e dava aos seus relatos um toque ficcional.

FERNANDO SABINO Sempre voltado para a busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano, ele nos mostra que o cronista tem seu "momento de escrever" e que, apesar da pressa, característica do ofício, ele também recebe o impulso da inspiração, seleciona e pesquisa, trabalhando o texto em suas diferentes fases.

SÉRGIO PORTO Traz a força total do humor tipicamente brasileiro expresso nas crônicas de Stanislaw Ponte Preta. Além de registrar a vida cotidiana, ele critica aquele tipo inculto que inventa palavras e expressões, criando um mundo de baboseiras (na mira, Ibrahim Sued). Influenciado por Manoel Bandeira, consciente das técnicas narrativas e dos recursos da língua, Porto recupera, através do humor, a poesia. Foi um raro criador de tipos que representam a índole do povo brasileiro, dando-lhes sempre a preferência em suas narrativas, um tanto fatídicas.

LOURENÇO DIAFÉRIA Segue outra vertente do humorismo: a precedência dos fatos sobre os personagens que os vivem, vistos com um olhar mais otimista. Consciente de que sua função é prestar atenção ao banal, ele vai costurando retalhos de informações até transformá-los em um relato verossímel, estruturado de acordo com as leis da coerência do texto, as peças ajustadas como num quebra-cabeça. Diaféria vai cumprindo o exercício da crônica como um testemunho do nosso tempo, contando as tragicomédias diárias, fazendo o leitor recuperar seu senso crítico enquanto se diverte, alcançando o que está além da banalidade.

PAULO MENDES CAMPOS É um caçador de imagens perdidas nas lembranças. Suas crônicas parecem poema em prosa tentando resgatar o tempo da infância perdida, em um jogo de analogias que envolve o leitor num somatório de emoções. Seu universo imaginário aproxima-se do real, permitindo ao leitor suportar as pressões do mundo convencional e partir para buscar novos horizontes, lembrando que ainda vale a pena viver.

CARLOS HEITOR CONY A experiência pessoal serve como ponto de partida para o trabalho deste cronista. Do convívio com sua própria família nascem as reflexões que servem de pretexto para formar uma visão crítica do mundo. Transitando entre textos despreocupados e dramáticos, Cony demonstra claramente sua preocupação em mergulhar na alma de seus personagens para melhor compreender os mistérios do ser, aproveitando "a leveza da crônica para buscar a leveza do espírito, na imagem do amor eternamente retornando ao homem e lhe devolvendo o sentido da humanidade".

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Seus textos apresentam a magia da síntese, o ritmo adequado, o jogo de imagens e o fino humor que revela o cansaço da vida e sua reabilitação. Drummond sabe que a crônica também tem sua "musa", o objeto nomeado para o nosso reencontro com a essência, nosso renascer. Dessa relação ele tira o necessário distanciamento para compreender seus próprios atos, confirmando o encontro do homem com alguma coisa que esta fora dele.
VINÍCIUS DE MORAES Apesar de considerar a "prosa como uma arte ingrata" ele mantém o equilíbrio entre o não ficcional e o ficcional, usando artimanhas peculiares. Transita entre a poesia, a prosa e a crônica usando
subjetivismo como forma de apreensão do ser humano. Um artista, no sentido pleno da palavra.

RUBEM BRAGA Dotado de uma sensibilidade especial e um lirismo reflexivo, Braga conhece a importância dos pequenos momentos que, somados, completam o quebra-cabeças da vida. Certamente capaz de produzir contos, novelas ou romances, ele não se deixou seduzir pelos chamados "gêneros nobres" e tornou-se essencialmente, cronista. Ocupa lugar de destaque na história da crônica brasileira. Pertencendo à linhagem do poeta Manuel Bandeira, de quem recebeu influência e de João do Rio, antecessor de todos os cronistas, Ruben Braga através de valores que recebeu em sua formação situa-se como um indivíduo num contexto social amplo. Ele compõe, então, um caminho claro, através do qual o prazer da leitura pode ser reencontrado, mostrando, através de um fato miúdo ou da estória inventada, a nossa própria estória. Ler Ruben Braga é encantar-se com suas palavras. *
* Sá, Jorge de. A Crônica. Ática, São Paulo, 1985, pág. 9.



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