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domingo, 16 de setembro de 2012

TEXTO DOS ALUNOS - Rui Pizzato


O Orgasmo

Cinquenta e dois anos. Considerava-se bonita, Corpo bem torneado. Seios firmes, resultado de uma cirurgia plástica depois do último parto, cerca de quinze anos atrás. Fazia ginástica por recomendação médica. Não podia engordar. Os níveis de colesterol e triglicerídeos estavam no limite considerado alto. O esforço compensava.  A ginástica que realizava regularmente nos últimos oito ou nove anos, além de moldar seu corpo, lhe deu uma tonicidade muscular de fazer inveja a muitas mulheres com dez anos menos.

Era formada em administração de empresas com especialização em marketing. A empresa, cujo proprietário era um amigo do seu marido, era pequena, e o universo de atuação era restrito à região onde morava. Casou cedo. Na época, morava no interior do estado. Oriunda de família simples, não teve muitos pretendentes e entendeu que o primeiro namorado seria o homem de sua vida. Tinha duas filhas, uma vida confortável, oriunda do resultado da fazenda do seu marido. Teoricamente não tinha do que se queixar.

Era feliz? Perguntava a si mesmo regularmente. O que era felicidade? Como podia ser medida? Não fazia terapia, pois seu marido entendia que não era necessário. “Essa tal de terapia pode virar tua cabeça”, dizia ele com frequência. Para não se incomodar, Regina, deixava assim. Sua vida era por ela considerada morna. Faltava emoção. Seria diminuição de desejos sexuais? Resultado do início do climatério? Muitas perguntas, poucas respostas.

Surgiu na empresa uma chance de atender uma nova empresa, e uma reunião importante foi marcada em São Paulo. Na véspera, o chefe de Regina e dono da empresa teve um problema de saúde e não pode viajar. Ele tentou adiar a reunião, mas duas pessoas viriam dos Estados Unidos especialmente para essa reunião. Regina foi escalada para substituí-lo. Ela estava tecnicamente preparada. Conhecia a empresa e o produto. Sabia o que falar. Sabia como convencer os novos clientes para que a reunião tivesse êxito.
Mal deu tempo para avisar o marido que estava na fazenda, e embarcou no primeiro voo para São Paulo. Na viagem, revisou o programa e chegou a cochilar. Estava excitada com a oportunidade. Por surpresa, não estava nervosa. A viagem transcorreu normal. Chegou a tempo de ir ao hotel, trocar de roupa e chegar no horário marcado para a reunião. Olhou-se no espelho antes de sair. “Estou bonita”, pensou.

Quando adentrou a sala de reuniões, percebeu que havia um número maior de executivos do que ela imaginava. Todos os sete homens ficaram paralisados quando Regina entrou apresentada pela secretária da diretoria. Não só sua beleza chamou atenção, mas principalmente seu porte, sua postura e seu sorriso agradaram a todos. Após os cumprimentos formais, Regina iniciou a apresentação do trabalho em power point bem realizado por sua equipe. À medida que a apresentação era realizada, Regina percebeu que estava no seu dia. Falando em inglês e português, a qualidade da apresentação ia aumentando à medida que os minutos passavam. 

Um dos americanos chamou a atenção de Regina. Ele, além de ouvir e gostar da apresentação, mantinha um olhar diferente dos demais. Aos poucos, Regina percebeu que era um olhar de desejo. Já conhecia aquele tipo de olhar, mas este era especial. Ela percebeu que o americano a estava desnudando com seus olhos azuis. Sentiu um arrepio dentro de si. Ele era elegante e muito charmoso.  Aparentava uns quarenta e oito anos. Seu olhar penetrava cada vez mais fundo no corpo de Regina. Por um instante, ficou perturbada, mas retomou a apresentação. Não podia diminuir a qualidade da apresentação. Desviou o olhar para os demais ao continuar a apresentação. 

Quando cruzava com ele, sentia o mesmo bem estar. A curiosidade feminina havia invadido sua alma. Ninguém a tinha olhado daquela forma. Um olhar de desejo jamais sentido por ela. Ficou envaidecida e surpresa. Aquele fato a deixou excitada. A temperatura do seu corpo aumentou acompanhada pelo batimento cardíaco.
Após alguns minutos, encerrou a apresentação. Foi muito cumprimentada. O aperto de mãos do americano confirmou o que havia sentido. A eletricidade estática transmitida no encontro das mãos comprovou tudo. O beijo no rosto, diferente dos demais, marcou mais fundo. A conta de marketing fora ganha com a apresentação. 

Regina sentou-se, e a conversa sobre o assunto continuou. O americano olhava numa só direção. Regina sentiu-se acariciada por aquele olhar. De repente mãos imaginárias começaram a subir sobre suas pernas. Apesar da saia justa que ela usava, havia espaço suficiente para que duas mãos circulassem livremente sobre suas coxas. Regina imaginou-se sem calcinhas, e as mãos seguiram o caminho natural, uma avenida com mão única até chegar à região pubiana. As mãos, como mágicas, foram rodeando o local principal. Seu clitóris já eriçado aguardava ansiosamente a chegada dos dedos para serem beijados por seus lábios vaginais, já úmidos pelo momento vivido. A penetração calma e firme de um dos dedos foi o clímax da viagem. Apertou ao máximo uma coxa contra a outra e sentiu uma sensação maravilhosa. Teve um orgasmo longo e pleno.
O melhor orgasmo da sua vida.

TEXTO DOS ALUNOS - Fátima Parodia

Meninas delicadas não brigam

 A bola subia, em volteios coloridos, leve - abrindo as asas e esquecendo o chão. A criançada erguia o rosto, pra acompanhar sua rota, o sol tardio queimando a pele.
Eles corriam pelo pátio, estendendo os braços para ampará-la no voo e mais uma vez, faze-la voltear deixando rastros de inocência e cor no infinito branco.

E a Cirlei, a filha da vizinha, ali – sentada no muro, olhar cru - ave de rapina, esperando o momento em que a bola colorida caísse em suas garras.Com um olho Larinha acompanhava a bola, com outro mirava a Cirlei. Estava pronta pra frustrar-lhe os planos. Faze-la engolir a inveja. Menina mimada, marrenta, filha única. Fazia pouco da miséria dos outros. Larinha nem ligava para a própria pobreza, tinha uma coisa muito mais preciosa – seis irmãos pra brincar.Aos nove anos eram inimigas declaradas. Mas não brigavam. Não era coisa de menina. Meninas são delicadas, não brigam, pensava Larinha.

Maldito momento em que a bola, num vacilo inocente e suicida, se jogou nas garras da Cirlei.Não adiantou implorar. Ameaçar. Nem as lágrimas do caçula amansaram o coração da fera. Só receberam de volta um corpo de plástico, flácido, colorido e sem vida. E o olhar de escárnio da Cirlei.

Toma, tua ex-bola. Disse debochadamente jogando o pobre pássaro sobre os pés da inimiga.Larinha não se conteve. Jogou o corpo miúdo sobre as carnes fartas da Cirlei. Com a raiva lhe turvando os olhos, bateu tanto na menina que tiveram que arrancá-la das suas mãos.

Enfim, o acerto de contas.O irmão mais velho pendurou a bola na cumeeira da casa. Um aviso discreto pra Cirlei. Um símbolo de vitória. Pra Larinha – apenas um pássaro torto, pintando de fúria e cor - os céus em dia de vento.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A crônica e a notícia de jornal

A crônica e a imagem


"Uma imagem contém mais de mil palavras... ”.  A palavra “imagem” vem do latim (imago) e  significa a representação visual de um objeto. E em grego antigo corresponde ao termo eidos, raiz etimológica do termo idea ou eidea, cujo conceito foi desenvolvido por Platão.

A palavra “imagem” está nos muitos domínios da atividade humana, quer na criação pela arte, quer como simples registro foto-mecânico, na pintura, no desenho, na gravura, em qualquer forma visual de expressão da ideia.
Mais: entre outras, entenderemos também como “imagens”, as veiculadas pelos anúncios publicitários, por exemplo. Ou a própria arquitetura dos edifícios,  das vestimentas, dos veículos de transporte. E das  representações sagradas ou de  todo material impresso e exibido nas telas.


Junto com o teatro, a dança, a instalação, o grafite, a fotografia, o vídeo em diálogos constantes com a palavra o olhar vira busca.
A imagem vira emoção, o movimento se descongela e corporifica a tela, o papel. A arte realiza a crônica.
Esse intercâmbio entre linguagens, sem predomínios e muros, essa vistoria olhar-palavra promove intenso jogo de criação e produção. A imagem conta, guarda, aponta, instiga, alimenta, sugere, amplia, convida, propõe, projeta. A crônica evidencia o olhar. Há leituras e escolha. Há o projeto. O texto. (Antonio Gil Neto)

Tipos de crônica


Afrânio Coutinho define cinco tipos de crônicas:

- Crônica Narrativa - história ou episódio próximo do conto contemporâneo, que não necessita obrigatoriamente de começo, meio e fim ( ex.: Fernando Sabino).
- Crônica Metafísica - são reflexões sobre acontecimentos e pessoas de cunho mais ou menos filosófico (ex.: Carlos Drummond, Machado de Assis).
- Crônica-Poema-em-Prosa - de conteúdo lírico expressa os sentimentos do cronista ante o espetáculo da vida, das paisagens ou episódios significativos (ex.: Ruben Braga, Manoel Bandeira, Raquel de Queiroz).
- Crônica Comentário - crítica de acontecimentos díspares, tomando o aspecto de "bazar asiático" (ex.: Machado de Assis, José de Alencar)
- Crônica Informação - relata os fatos, fazendo ligeiros comentários impessoais (ex.: Lourenço Diaféria, Flávio Rangel).

Características da crônica


- Síntese;
- Uso do fato como meio ou pretexto para o artista exercer seu estilo e criatividade;
- Doses de lirismo;
- Natureza ensaística;
- Leveza;
- Diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa
fiada;
- Uso do humor;
- Brevidade;
- É um fato moderno: está sujeita à rápida transformação e à fugacidade da vida moderna.

sábado, 8 de setembro de 2012

TEXTO DOS ALUNOS - Bárbara A. Sanco


E se as sombrinhas se revoltarem?

Pensando sobre para onde vão os objetos perdidos lembrei que quando criança detestava minhas sombrinhas e tentava perde-las, muitas vezes sem sucesso.
Na escola, a servente que limpava minha sala corria chamando meu nome e empunhando aquele estampadinho floral com cabinho metálico escolhido pela minha mãe e lá se ia minha tentativa de desfazer-me dela.
No ônibus era mais fácil eu escondia embaixo do banco e poucas vezes alguém via a tempo de me devolver.
Foram tantas armações, feitas para me proteger da chuva, que escondi para tentar perder que me deu agora uma espécie de medo.
E se elas estiverem todas em algum lugar ressentidas pelo meu desprezo?
Será que com a chegada do verão planejam esconder de mim o Sol como vingança? Espero que não.
Em algum buraco de Alice, devem estar fazendo companhias, para minhas sombrinhas perdidas, as fotos que guardei e nunca mais achei e com certeza muitas tarrachinhas de brinco que criam pernas e se aposentam ou são levadas por duendes. Sei lá!
Pergunto-me não só para onde vão os objetos perdidos, mas também se eles se sentem abandonados e vou me enchendo de arrependimentos.
Prometo nunca mais abandonar minhas sombrinhas.