E se as sombrinhas se revoltarem?
Pensando
sobre para onde vão os objetos perdidos lembrei que quando criança detestava
minhas sombrinhas e tentava perde-las, muitas vezes sem sucesso.
Na
escola, a servente que limpava minha sala corria chamando meu nome e empunhando
aquele estampadinho floral com cabinho metálico escolhido pela minha mãe e lá
se ia minha tentativa de desfazer-me dela.
No
ônibus era mais fácil eu escondia embaixo do banco e poucas vezes alguém via a
tempo de me devolver.
Foram
tantas armações, feitas para me proteger da chuva, que escondi para tentar perder
que me deu agora uma espécie de medo.
E
se elas estiverem todas em algum lugar ressentidas pelo meu desprezo?
Será
que com a chegada do verão planejam esconder de mim o Sol como vingança? Espero
que não.
Em
algum buraco de Alice, devem estar fazendo companhias, para minhas sombrinhas
perdidas, as fotos que guardei e nunca mais achei e com certeza muitas
tarrachinhas de brinco que criam pernas e se aposentam ou são levadas por
duendes. Sei lá!
Pergunto-me
não só para onde vão os objetos perdidos, mas também se eles se sentem
abandonados e vou me enchendo de arrependimentos.
Prometo
nunca mais abandonar minhas sombrinhas.
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