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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

TEXTO DOS ALUNOS - Rui Carlos Pizzato

O Cantor que não sabia cantar

Alegro minha alma em primeiro lugar. O cantor se exibe para si mesmo antes de exibir-se para os outros. Às vezes eu aceito pedidos dos que estão à minha volta, mas normalmente eu quero expressar o que eu sinto no momento. É difícil para as pessoas entenderem essa explicação. Podem pensar que sou egoísta, mas não sou. 

Eu canto acompanhado do meu violão, presente de um grande amigo meu. Violão antigo, já usado, mas de boa performance. Outras pessoas já acariciaram aquele violão. Não tenho ciúmes. O violão tem o formato de um corpo de mulher por esse motivo. Para ser acariciado, tocado com carinho. Ser tratado como se uma mulher fosse, Como uma mulher merece. As cordas devem ser ajustadas e trocadas como um vestido. O vestido do corpo violão da mulher. Cordas de festa, cordas de baile, cordas para lembrar momentos íntimos, cordas para poucas pessoas poderem ouvir. Prefiro o violão sem som elétrico. Ele tem que ser como minhas cordas vocais. 

O som sai com naturalidade. Às vezes mais alto, às vezes mais baixo. Mas natural. Sem amplificação. Assim é o vestido de uma mulher. Deve realçar seu corpo naturalmente, sem artifícios. Mostrar o que pode e insinuar o que não pode. Assim é meu violão. Assim é o meu canto. Agradando ou não, eu canto. Ponho para fora o que minha alma fala comigo. Quando estou triste, busco os antidepressivos oriundos das notas musicais. Bolinhas com tracinhos para cima ou para baixo. Procuro músicas que me deixam mais triste ainda. Contrassenso? Não para mim. Consigo assim penetrar mais fundo na minha alma, para tentar encontrar a razão daquela tristeza e aproveitar pouco a pouco as oitavas acima como se fosse uma escada para sair do poço onde me encontro. Sempre tenho êxito. 

Posso às vezes demorar mais, mas consigo sempre subir a escada para poder olhar para o horizonte da vida. Quando estou alegre, minha alma já está transbordante. As notas musicais são semelhantes, então, às borbulhas de um espumante, que sobem sempre à superfície. E estouram para que eu possa sentir seu odor. Sentir o sabor da vida. Felizes são os que conseguem interpretar essas pequenas nuances de uma música, das notas musicais. Os pequenos detalhes da vida. Eu sou assim. Desejos, desejos. Sonho? Quem sabe um dia eu poderei realizar esse sonho. Por quê? Por que sou mudo.

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