Game
over
Começa o jogo.
Ai, meu pé esquerdo está
doendo mais que o direito. Acho que estão reclamando a saudade de 20 anos de
salto alto, já que hoje calcei um tênis chatinho. É deve ser isso mesmo, o
incômodo me faz entender com significação mais concreta o adjetivo. Mas que
fazer, preciso caminhar até o ônibus.
Saio do prédio e alcanço a
rua e nela as luminárias do passado são árvores de fogo branco, entre mesas de
plástico apinhadas de gente, num happy hour esticado. Deixo minha colega num
táxi e sigo pelo calçamento de pedras. Os bares ficaram para trás. O burburinho
vai virando sussurro. Abro um meio sorriso ao lembrar aquela barba grisalha e
cônica vestida de paletó e gravata cinza que visitou a sala de aula hoje. Que
figura!
Dou-me conta que as pessoas
rareiam e que virei recheio entre o comércio de portas fechadas. Dá um
friozinho na barriga, receio de ser assaltada, então apresso meu manquitolar.
Transmuto o medo em coragem ao encarar a tarefa como aventura. Há quem pague
para sentir medo na montanha russa, pelo menos medo de assalto é de graça. Já
perto da parada escuto a música ao vivo que vem do Chalé e que dá trilha sonora para minha
façanha. Que sorte, o Carlos Gomes na parada espera eu embarcar. Pago a
passagem e desligo o alerta máximo, fim da primeira fase.
As próximas, desembarcar e
caminhar uma quadra até em casa são de baixo grau de dificuldade e venço sem
esforço.
Chave na porta, game over, em casa
ilesa guardo os bônus de vida para o jogo de amanhã.
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